domingo, 25 de abril de 2010

Boneca de Louça


Entre caixas e mais caixas tocou na sua antiga bonequinha de porcelana, sentada ali acariciando o rostinho resistente, exclamou: não é tamanha sorte ser uma boneca de porcelana, embora presenteada por traçados delicados e atraentes, tanta beleza esconde fragilidade. E isso nos tira o paradigma de ver belo como bom. Se é quebrável facilmente não é bom. Sorriu. Para que uma bonequinha assim dure aos castigos do tempo é preciso um bom dono.
Ainda fitando aquela pele ávida lembrou–se de uma frase de um amigo: tens rosto de bonequinha. Conquistas facilmente a atenção das pessoas.
E os olhos que fitavam a bonequinha se inundaram em lágrimas, lembrou dela e de tantas outras bonequinhas por aí existentes que eram belas, mas que também eram feitas de fragilidades, e que na ausência da grande sorte não possuíam bons donos. Seu corpo de louça já apresentava os arranhões do tempo e da falta de cuidado, e não demorariam a se quebrar em cacos. E a gente que tanto espera bons cuidados dos donos (boa mãe, bom pai, bom amigo, bom amor) se surpreende com situações assim. Quem mais te tem na mão, mais te ataca. Talvez, quem sabe, a bonequinha ainda tenha sorte e encontre quem recolha e cole seus cacos. E num passe de mágica (ou amor) ainda te tornes de plástico.

sábado, 17 de abril de 2010

DeZcompasso do amor


Ironicamente não ter sorte no amor, nos revela também o quanto de paciência nós temos para tentar resolver problemas teórica e praticamente sem solução aparente. E não importam quantas soluções você queira dar, passar horas traçando x e y na equação do amor é simplesmente perda de tempo. Ah sim, você pode enumerar de dois a dez compassos ou passos que tem mantêm ali, estática, apática a todas as situações. E elas com certeza te ajudaram a tentar entender sua situação paradoxal. Amor não requer apenas ritmo, não basta esperar quem vai ceder primeiro. Nem sempre dizer sim ou não resolve o problema. É complexo demais pra você e sua simplória vida, confere!
Ser simples, é visto, te traz prejuízo. A simplicidade do amar por amar, querer por querer, sem mais explicações é o ópio, provoca loucura. Não o frenesi esperado, a euforia aparente, excitação plena, falo. Vira narcótico de "bula" de médico de sanatório. Alucinação depressiva, tirar manga sem vara e sem pé, medo impróprio para a causa, choro, dor, incompreensão pura, minha e sua.
É difícil acreditar que prefiram o complexo ao simples, a insensatez pela sanidade. A ausência do gozo, do riso, do ápice. Abstinência pura de felicidade.
Eu cedo, não me converto ao teu satisfatório dom de não amar. Não julgo! Mas lamento.