Um pouco mais de 15 anos, lembra-se bem de quando começaram
as primeiras mudanças na casinha humilde de vila, que apesar de confortável era
bem pequena, e a vontade paterna de mais conforto e individualidade se
sobressaiu. Um sobrado começou a construir, apesar de não ter condições.
Lembrou-se bem do dia em que a mãe cansada de restringir os
filhos a um quarto na casa de algum parente, pediu para ir para o sobrado em
reforma. Cinza, tudo era cinza, chão de terra em alguns locais e nada de luxo,
mas ao menos não havia goteiras. Para as crianças tudo era aventura, e assim
foram os longos anos de reforma que nunca concluíram até os dias atuais.
Na adolescência trazia consigo um sentimento de vergonha por
não ter tudo como era em sonho, a ponto de evitar levar alguns amigos. Pensamento
bobo e infantil, pois qualquer pessoa madura reconheceria a beleza da casa
perante os filhos em que nada jamais faltou, bons estudos, boa educação e boa saúde
(sempre foram as prioridades). O hábito do jeitinho prolongou por uns anos
adiante. Até que a filha mais nova, a primeira a terminar os estudos, mas a última
a trabalhar devido aos próprios estudos, começou a investir naquilo que achava
que deveria deixar de gratidão aos pais. No primeiro salário ao invés de roupas
e sapatos comprou tijolos e tintas e começou a dar conforto para quem da melhor
forma tinha tentado dar de um tudo. Móveis bonitos, eletrodomésticos bons,
entre outros tantos mimos.
No seu grande dinheiro em mãos, que caberia uma boa entrada
em um bom carro, ou uma boa viagem para o local de escolha (Chile – seu sonho,
ou Alemanha – visita amiga), decidiu não mais do que investir um pouco mais no
conforto dos pais, o banheiro que nunca tinha ganhado atenção especial, teve
agora direito a tudo, tal qual banheiro de revista. Com carinho ela finalizou
com bom grato os últimos toques da casa, deixando o desejo de ser lembrada em
cada cantinho de conforto, (terraço, sala, quarto, banheiro, telhado) e a partir daí se sentia pronta em deixar só para
eles aquela casa que sempre foi de todos, e seguir sua direção, que ainda não sabia
qual era, mas que já poderia ir sem medo, tinha sim cumprido sua missão. E
sabia o quanto ela era uma boa menina. Quem prioriza família e casa, prioriza também todo o
resto.
No fim do texto ela lembrou com um sorriso bobo o comentario de uma (amor-amigo): " você precisa viajar mais!" Quem sabe agora ela vai...
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