terça-feira, 27 de agosto de 2013

Construções

Um pouco mais de 15 anos, lembra-se bem de quando começaram as primeiras mudanças na casinha humilde de vila, que apesar de confortável era bem pequena, e a vontade paterna de mais conforto e individualidade se sobressaiu. Um sobrado começou a construir, apesar de não ter condições.
Lembrou-se bem do dia em que a mãe cansada de restringir os filhos a um quarto na casa de algum parente, pediu para ir para o sobrado em reforma. Cinza, tudo era cinza, chão de terra em alguns locais e nada de luxo, mas ao menos não havia goteiras. Para as crianças tudo era aventura, e assim foram os longos anos de reforma que nunca concluíram até os dias atuais.
Na adolescência trazia consigo um sentimento de vergonha por não ter tudo como era em sonho, a ponto de evitar levar alguns amigos. Pensamento bobo e infantil, pois qualquer pessoa madura reconheceria a beleza da casa perante os filhos em que nada jamais faltou, bons estudos, boa educação e boa saúde (sempre foram as prioridades). O hábito do jeitinho prolongou por uns anos adiante. Até que a filha mais nova, a primeira a terminar os estudos, mas a última a trabalhar devido aos próprios estudos, começou a investir naquilo que achava que deveria deixar de gratidão aos pais. No primeiro salário ao invés de roupas e sapatos comprou tijolos e tintas e começou a dar conforto para quem da melhor forma tinha tentado dar de um tudo. Móveis bonitos, eletrodomésticos bons, entre outros tantos mimos.
No seu grande dinheiro em mãos, que caberia uma boa entrada em um bom carro, ou uma boa viagem para o local de escolha (Chile – seu sonho, ou Alemanha – visita amiga), decidiu não mais do que investir um pouco mais no conforto dos pais, o banheiro que nunca tinha ganhado atenção especial, teve agora direito a tudo, tal qual banheiro de revista. Com carinho ela finalizou com bom grato os últimos toques da casa, deixando o desejo de ser lembrada  em cada cantinho de conforto, (terraço, sala, quarto, banheiro, telhado) e a partir daí se sentia pronta em deixar só para eles aquela casa que sempre foi de todos, e seguir sua direção, que ainda não sabia qual era, mas que já poderia ir sem medo, tinha sim cumprido sua missão. E sabia o quanto ela era uma boa menina. Quem prioriza família e casa, prioriza também todo o resto.
 
No fim do texto ela lembrou com um sorriso bobo o comentario de uma (amor-amigo): " você precisa viajar mais!" Quem sabe agora ela vai...

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