terça-feira, 7 de setembro de 2010

De repente 15

Se conheceram há alguns anos, nesses acasos da vida, não demorou ele, que na época entrava para os 30, chamou intensamente sua atenção, pelos atributos psicológicos que ele tinha. Parecia um cara legal, centrado, cheio de idéias boas, gentil, carinhoso, bonito, tudo aquilo que a mulherada gosta. À medida que foram se conhecendo mais intimamente algumas atitudes que não condizia com a idade, nem com o psicológico do cara foram aparecendo. Ela ficava encucada com esses ataques de meninice, mas achava que seria passageiro.
Continuaram o relacionamento, que não era próprio da idade de nenhum dos dois, mas ela que no momento saia de um relacionamento conturbado, achou bom ser assim o início de tudo. O tempo foi passando e ele oscilava mais e mais, ora falava como homem e ora como menino. Ela como a maioria das garotas de sua idade, começou a sentir que queria sim um relacionamento mais sério, não pensando em casamento, pois ainda não se sentia preparada, embora tinha quase trinta, mas queria conversas mais íntimas, sexo menos preocupado, viagens a dois e até dividir problemas, nada de mais, pensava.
O problema foi que ao passar a idéia pro moço, o coitado "pirou", ou melhor, revelou sua verdadeira identidade, menino de 15 fantasiado de 30. Começou com um papo estranho de pegar todas, pelo menos duas por festa, acho! O lema agora era sacanagem, pisar em tudo e em todas. O velho caiu na rede é peixe. Usou calcinha eu pego. Provavelmente tava soltando cantada até do tipo: Olá, meu nome é Arlindo, mas pode me chamar de "Lindo", porque perdi o "Ar" quando te vi. Chocante.
Não conseguia imaginar tal pessoa nesse nível, nem o que teria levado a isso. Mas estava lá, estampado em tudo o agora eu sou cafajeste.
Coitado, além de tudo interpretava mal seu personagem garoto problema. O que fazia ela rir, sem dúvidas, mas se ele escolheu voltar aos tempos das espinhas-e-super-hormônios, não podia ela fazer nada. Também não estava disposta a esperar a fase passar, se é que ia.
Como ele deixou bem claro que era do jeito dele ou nada, ela retirou sua insignificância, e jogou fora os desejos que tinha para com o moço. De adolescente bastava os que rodeavam sua profissão, e ela nunca gostou do corpo franzino e das espinhas, nem curtia lugares e papos dos mesmos.
Lamentou, como pode alguém com tanta qualidade física e psicológica, se esconder por trás de um personagem tão sem graça, é uma perda e tanto para as mulheres de quase 30.
Mas enfim como ele mesmo tem gostado de dizer : mulher é o que não falta. Mesmo que se tenha que fazer um esforço danado para mantê-la calada, mas quem pega e não se apega não quer diálogo, não mesmo.
É, voltar aos 15 é fácil, difícil é viver tudo que se jogou fora na fase dos 30 deixados pra trás. E o tempo, meu querido, é cruel, com todos. Fato.
Se esconder num personagem juvenil pra evitar a responsabilidade dos trinta, nunca foi a melhor maneira de passar por ele. Mas é uma boa maneira de ver ele (os 30) passar por você.

* Relatando um sonho.

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