Ao entardecer de mais um dia comum, Lorena concluía seus
afazeres cotidianos sem imaginar a surpresa que a vida lhe ofereceria.
Tirou o dinheiro da bolsa e pagou as torradas, que gostava
de comer com chá de camomila, que não acalmava, mas fazia parte da dieta.
Ao levantar os olhos Lorena percebeu que ele a olhava com um
olhar interrogativo de quem não acredita no que vê. Eles jamais imaginariam se
encontrar em cidade tão distante, a qual ela escolheu para finalizar sua vida
em paz.
Ela também surpresa, mas não pode evitar fugir com os olhos,
tal visão trazia consigo lembranças ruins que não conseguiam superar a
felicidade em revê-lo. Em revê-lo bem.
Sem segurar as lágrimas seguiu com passos apressados o
caminho de casa, não queria um encontro com o passado, que talvez no peito não
tivesse passado.
Lorena! Exclamou uma voz. Mas a cabeça contrariando o
coração manteve os passos.
Lorena! Uma mão a segurou. Olhos nos olhos e um breve silêncio.
Silêncio de quem não perdoa.
Você por aqui? Quanto tempo! Você não mudou nada. A gente
pode conversar? Contestou sem parar o rapaz.
Lorena olhou para a paisagem da natureza convidativa da
cidade, olhou para o rapaz e sem dizer nada se foi.
No entardecer seguinte ele tentou a sorte lembrando que
cidade pequena tem como hábito a rotina, não se enganou. Mesmo distante
reconheceu os longos cabelos avermelhados, que ele sempre dizia ser lindo e que
trazia a cor da folhagem da sua árvore favorita, a pele alva e os olhinhos
azuis, que agora não estavam avermelhados. Ela passeava entre as flores do
parque da cidade das flores.
Sentaram juntos e mais uma vez ela ouviu-o defender suas
atitudes por proteção.
Docemente dessa vez ela não calou e deixou o coração falar:
o amor não precisa de proteção, o que ele quer é coragem, falo de amor porque
foi o que senti e o que ouvi de você, ainda hoje não sei se foi verdade, mas
vivi algo bom com você e logo depois experimentei desprezo, distância e silêncio
com uma desculpa repetitiva de proteção, e sinto muito, por mim e por você. Eu quis
tudo e tanto, me expus, me encorajei, aceitei o que nunca imaginei, me encantei
pela ideia de viver um amor adolescente que não teve a sorte de ser revelado no
momento certo, me encantei pela dádiva da segunda chance divina. Me entristeci
pelas tentativas de contato, pela sensação de procurar quem desprezava até
minha amizade.
Hoje, depois de tanto tempo, eu sinto que pouco passou, mas
dou a você o direito de fazer algo por nós, todavia eu já sei que mais uma vez
vai reinar a ausência de coragem.
Foi assim no nosso primeiro desejo, no segundo, talvez no
terceiro e sempre. Mesmo esbravejando para mim que jamais havia sentido o que estava sentindo.
Ou talvez eu esteja enganada, o que eu chamo ausência de
coragem seja hoje e sempre ausência de vontade, desde o amor a amizade.
Levantou e se foi.
T.H
T.H
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